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  • Foto do escritorFilmes do Mato

Entrevista com Isadora Martins

O cinema era pra mim algo distante, sempre fui curiosa sobre esse universo, mas não imaginava fazer parte dele. Minha jornada audiovisual começou um pouco por acaso, e as grandes responsáveis por ela são a Universidade Federal de Juiz de Fora e a Filmes do Mato. Sou estudante de Moda da UFJF, e foi na universidade que eu conheci a Bruna Schelb, que me surpreendeu ao me convidar para assinar o figurino do “IMO”, longa-metragem dirigido por ela como seu Trabalho de Conclusão de Curso, e também o filme responsável pelo nascimento da Filmes do Mato.


Isadora Martins no set do longa-metragem "IMO" da diretora Bruna Schelb Corrêa.

Foto: Leonardo Morais


O "IMO" foi uma primeira experiência maravilhosa, com uma equipe incrível, o que tornou impossível não me apaixonar pelo ofício. Desde então venho me aventurando nesse universo, já tive a oportunidade de participar de diversas produções como figurinista e também como diretora de arte, buscando experimentar e evoluir, pessoal e profissionalmente, a cada set do qual faço parte.


O meu processo de concepção de um figurino normalmente começa com uma conversa com a diretora e/ou com a diretora de arte para entender melhor quais as expectativas para os personagens e para o universo que iremos criar juntas. Além de, é claro, muitas leituras do roteiro, pesquisas e idas a brechós. Mas não mantenho nenhuma metodologia rígida de ação, gosto de deixar isso aberto para que cada projeto possa fluir naturalmente da sua própria forma.

Isadora Martins, Janis Souza, Bruna Schelb Corrêa e Mia Mozart no set do filme

"Janaína-Sem-Cabeça". Foto: Felipe Monteiro


Através do roteiro é possível conceber a primeira ideia de quem é cada personagem e, consequentemente, quais são as demandas de cada uma para o figurino. Por meio dele posso colher muitas informações, não apenas nas descrições de personalidade, idade e época, mas também a partir dos hábitos, falas e atos das personagens. No roteiro também encontro outros pontos que precisam ser considerados na criação do figurino, como a locação em que cada cena será ambientada e as atrizes que irão contracenar. Tudo isso é muito importante para a criação de um figurino adequado e coeso. Os atos descritos que serão desenvolvidos pelas personagens também precisam de uma atenção especial, para que a mobilidade necessária para a performance da atriz seja assegurada.


O trabalho de figurinista demanda muita organização e cuidado tanto na pré-produção quanto no set. Grande parte da minha experiência foi com filmes de baixo orçamento, por isso, muitas vezes as peças que utilizo são de acervo pessoal, ou emprestadas por pessoas queridas, então elas precisam ser devolvidas em perfeito estado, por isso todo cuidado é extremamente necessário.


Para ajudar a me organizar na pré-produção eu prefiro dividir os looks por personagem, subdividindo tudo que será necessário, cena a cena. Já na hora das gravações, uso a ordem do dia como base para chegar ao set com tudo organizado e separado de acordo com a sequência em que será filmado, para agilizar o processo de preparar as atrizes e evitar atrasos.


A relação entre todos os departamentos é importante, mas a relação da figurinista com as equipes de fotografia e de arte é indispensável. Sempre busco estar em constante comunicação com esses departamentos. Para criar uma imagem final que seja consistente é preciso que as equipes estejam dispostas a adaptar suas propostas de forma que cada trabalho aumente a potência do outro, e que todos eles concordem


Set do filme "MÁI ÁIS". Foto: Leonardo Morais


Tenho imenso orgulho em poder afirmar que sou apaixonada por cada uma das produções nas quais colaborei com a Filmes do Mato. Todas as experiências que tive com essa equipe foram deliciosas, e os resultados são sempre incríveis. Mas, se for preciso escolher só uma, eu diria que a minha favorita é “Mái Áis”, o segundo curta da série “Baixas Lendas da Classe Média Alta”. Não sei especificar qual o motivo do favoritismo, mas eu me apaixono de novo a cada vez que assisto.


O cinema independente brasileiro se mantém porque existe muita gente apaixonada que acredita nele e tem essa vontade imensa de fazer filmes e de organizar festivais para exibi-los.  Mas não posso romantizar, a situação é complexa. Não podemos contar com apoio e investimento do governo atual nem no cinema nem em nada que tange a cultura. Infelizmente, grande parte da população se mostra, também, desinteressada. Sem investimento muitas grandes ideias não conseguem sair do papel. Além disso, a pandemia impossibilita os encontros e sem reunir as equipes é muito difícil conseguir continuar produzindo. A distribuição dos filmes também sofre o reflexo do vírus, com a transformação dos festivais em eventos virtuais. Apesar de tudo o cinema independente brasileiro segue tentando encontrar maneiras de sobreviver.

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